O preço do feijãonão cabe no poema. O preçodo arroznão cabe no poema.Não cabem no poema o gása luz o telefonea sonegaçãodo leiteda carnedo açúcardo pão
Os versos do poeta maranhense Ferreira Gullar no poema "Não há Vagas" foram escritos em 1963 e abordavam problemas sociais vividos pelos trabalhadores naquela época. No entanto, quase 60 anos depois, essas questões seguem incomodando os brasileiros através das décadas.
A palavra inflação aparece constantemente no noticiário de economia e, principalmente, no bolso da população. Por se tratar de um assunto em alta, os vestibulandos precisam estar preparados para não serem pegos de surpresa caso o tema seja abordado em alguma questão de vestibulares e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
O que é inflação?
A inflação é uma velha conhecida dos brasileiros. Ela acontece quando os preços de produtos e serviços do país sofrem aumentos significativos e constantes. Com os valores mais altos, a população sofre o impacto com compras mais caras em itens básicos, principalmente no mercado.
"Os salários não acompanham essas elevações, provocando uma alta dos custos para adquirir produtos que a população está acostumada a consumir", explica o professor de Geografia do curso pré-vestibular da Oficina do Estudante de Campinas, Dario Francisco Feltrin.
Com isso, o dinheiro acaba desvalorizado e valendo menos, e o poder de compra dos brasileiros é reduzido. Segundo dados levantados pela revista piauí, todo o dinheiro em circulação no Brasil em 2012 (R$ 167 bilhões) comprava 85 milhões de toneladas de arroz à época. Mas em 2021, toda moeda em circulação (R$ 342 bilhões) compra cerca de 56 milhões de toneladas do grão.
Apesar do montante em circulação no país ter mais que dobrado, o preço médio do arroz subiu de R$ 1,96 em 2012 para R$ 6,10 em 2021. Ou seja, o valor do arroz mais que triplicou nas prateleiras dos mercados. O salário mínimo no Brasil, no entanto, não chegou a dobrar no período, tendo aumentado cerca de 68% de 2012 para 2021.
O Brasil passou por períodos históricos de hiperinflação, principalmente nas décadas de 1980 e 1990. Na época, os preços subiam descontroladamente de um dia para o outro. Apenas com a criação do Plano Real, elaborado pelo governo de Itamar Franco em 1994, que a economia brasileira conseguiu se estabilizar e conter o avanço dos preços.
O que causa a inflação? E quais são as suas consequências?
Existem alguns motivos que são os causadores da inflação. O primeiro deles são os gastos excessivos do governo. Para equilibrar as despesas, o governo aumenta impostos ou imprime mais dinheiro para pagar contas e dívidas.
Com moeda excedente em circulação e mais dinheiro que ofertas de produtos e serviços, os preços sobem. O aumento da taxa de impostos também impacta diretamente no consumidor, que vê os preços subirem para que o governo possa cobrir suas despesas.
Outro fator que soma a inflação é a diminuição da produção de empresas, que produzem menos que a demanda. Nesse caso, com menos produtos e serviços, os preços sobem e apenas quem tem dinheiro continua pagando por tais bens.
Além disso, o aumento de custos de produção, como matéria prima, mão de obra e até taxas de juros, também reflete no preço final para os consumidores. Há também a inflação por inércia, que é quando empresas aumentam seus preços para não perder lucros em momentos de instabilidade. Por consequência, os trabalhadores que não querem perder poder de compra acabam por reivindicar salários maiores.
Indicadores da Inflação
Existem alguns índices que indicam como está a inflação no país, como os preços estão subindo e qual o impacto dessa variação na vida dos brasileiros. Conheça alguns dos mais importantes indicadores da inflação no Brasil:
- IPCA: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) é o cálculo oficial da inflação no Brasil, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele é medido mensalmente, e leva em consideração os gastos básicos com alimento, moradia, educação, saúde e despesas pessoais de famílias que ganham de 1 a 40 salários mínimos nas principais regiões metropolitanas do país.
- INPC: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) também é um indicador oficial do IBGE. A diferença para o IPCA é que ele calcula os preços para uma população de faixa salarial de até 5 salários mínimos, apresentando alterações de preços de itens mais básicos, como os alimentos do dia a dia.
- IGP: a Fundação Getúlio Vargas (FGV) é a responsável pelo cálculo do Índice Geral de Preços (IGP). Ele não calcula a alteração de preços direta para o consumidor, mas sim a variação para o atacado e a construção civil.
- IPC: o Índice de Preço ao Consumidor (IPC) também é de responsabilidade da FGV. Ele calcula o aumento dos preços de produtos e serviços de varejo no dia a dia em famílias com renda mensal entre 1 e 33 salários mínimos de sete capitais brasileiras.
Saiba mais: 5 atualidades que podem cair no Enem 2021
Inflação na pandemia
A inflação voltou a aparecer em alta no Brasil durante a pandemia de covid-19, e os brasileiros perceberam aumentos de preços em itens básicos como arroz, feijão e as carnes no mercado, além de gasolina, conta de luz e gás mais caros.
A escassez de produtos essenciais em países de todo o mundo foi um dos agravantes da inflação para a economia global. As pessoas não pararam de se alimentar, mas a menor oferta pelos produtos afetou diretamente nas etiquetas de preços dos supermercados. Problemas climáticos, como a crise hídrica no Brasil, também afetam a produção e o abastecimento das prateleiras para o consumidor - além de encarecer o preço da conta de luz.
Durante o período da pandemia, o dólar também teve aumento significativo em relação ao real. Insumos importados, portanto, ficaram mais caros. Isso também reflete diretamente nos preços dos combustíveis, já que a Petrobras, estatal brasileira responsável pela área, decidiu seguir politicas de preços do mercado internacional.
O Indicador de Inflação por Faixa de Renda, calculado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra que o aumento de preços para as famílias de renda baixa e média baixa são as que apresentam as maiores taxas de inflação acumulada em 2021.
No primeiro ano de pandemia (de março de 2020 a fevereiro de 2021), a inflação sentida pelas famílias brasileiras mais pobres foi de 6,20%, contra 2,86% nas famílias mais ricas. "Apesar de os preços em si serem iguais para todos, o tamanho do impacto dos aumentos variam para cada família, de acordo com a chamada cesta de consumo", explica Dario, professor de Geografia da Oficina do Estudante.
Em 2021, o IPCA já aumentou 5,67% até agosto. A inflação acumulada dos últimos 12 meses se aproxima de 10% e já chega a 9,68%, maior marca desde 2016.
Pode cair no Enem?
O tema inflação já apareceu em questões de Enem em edições anteriores e já foi abordado em outros vestibulares e processos seletivos de universidades. É um assunto muito amplo que pode surgir novamente nas provas de diversas disciplinas.
Em Matemática, pode aparecer em cálculos de variação de preços, nas questões de História pode tratar sobre os períodos em que a inflação afetou o povo brasileiro, e em Geografia pode aparecer em relação aos planos econômicos do passado e em formas de tabelas com dados relacionando o poder aquisitivo das famílias.
Segundo o professor de Geografia da Oficina do Estudante, é essencial que os candidatos fiquem atentos às atualidades que nem sempre estão nos livros didáticos. "O tema inflação está inserido no nosso dia a dia e reflete praticamente em tudo que fazemos, quando compramos, vendemos ou alugamos alguma coisa", afirma Dario.
"O cenário atual brasileiro infelizmente acabou acordando o dragão da inflação, para o qual precisamos descobrir um remédio que o faça voltar para os braços de Morfeu", completa o professor.
E na redação, pode ser tema?
De acordo com Milton Costa, professor de Redação e Literatura da Oficina do Estudante de Campinas (SP), é improvável que a inflação seja o tema de redação central cobrado no Enem. No entanto, o professor afirma que o assunto pode ser componente importante de outras discussões que podem vir a ser o tema chave de redações do exame e outros vestibulares.
Milton cita exemplos como o "desemprego descontrolado, a marcha ré no desenvolvimento
do país em comparação com outras nações do mesmo nível e a apavorante volta da
fome a patamares aos quais jamais deveria ter voltado."
Ele lembra também como outro assunto que pode ser mais recorrente que a inflação, justamente por se tratar de um contexto atual brasileiro: a estagflação. "O termo não é novo, existe desde a década de 1960, é dicionarizado (vem do inglês), e encerra a demolidora combinação de alto desemprego e alta da inflação", afirma Milton. "Os economistas o conhecem bem."
Para finalizar, o professor dá a dica para que os estudantes fiquem por dentro do tema e tomem cuidado com as discussões políticas. "Os alunos têm de estar antenados, sem deixar que questões politiqueiras contaminem um debate que é fundamentalmente econômico", ele alerta.
Leia mais:
+ Atualidades Enem: o que é e como funciona uma CPI?
+ Atualidades Enem: Fome no Brasil
+ Atualidades Enem: Desenvolvimento sustentável
+ Atualidades Enem: Olimpíadas
Plano de estudos Enem Corridão
O Enem está ficando mais próximo, mas ainda dá tempo de estudar o que está faltando e dar as revisadas finais antes dos fins de semana de prova. Pensando em te ajudar nessa reta final, o Quero Bolsa criou o plano de estudo Enem Corridão, em parceria com o cursinho Se Liga!
O Enem Corridão é um cronograma de estudos mensal e gratuito, com tudo o que você precisa revisar até o Enem e aproveitar os últimos meses antes da prova.
Leia também:
+ Enem Corridão 2021: Atualidades de agosto
+ Enem Corridão 2021: Atualidades de setembro
Para estudar com cultura: músicas e poemas sobre inflação
A Revista Quero selecionou algumas músicas que abordam o tema inflação, além de poemas que tratam do assunto (e até já foram componentes de questões do Enem). Para te inspirar a estudar sobre o assunto e entender como ele faz parte da história do Brasil, confira abaixo:
Paulinho da Viola - Pecado Capital
Beth Carvalho - Saco de Feijão
Neguinho da Beija Flor - Dia a dia (Melô da Inflação)
Carlos Drummond de Andrade - Foi-se a Copa?
Foi-se a Copa? Não faz mal.
Adeus chutes e sistemas.
A gente pode, afinal,
cuidar de nossos problemas.
Faltou inflação de pontos?
Perdura a inflação de fato.
Deixaremos de ser tontos
se chutarmos no alvo exato.
O povo, noutro torneio,
havendo tenacidade,
ganhará, rijo, e de cheio,
A Copa da Liberdade.