A profissão de cientista pode até parecer um sonho distante ou de infância mas ela é a realidade de mais de 200 mil pessoas no Brasil, de acordo com os últimos dados publicados pelo Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em 2016.
Do total de pesquisadores, 122.103 são mulheres. Já em relação às bolsas de estudo oferecida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), as mulheres representam 60%.
Embora pareça um cenário favorável, ao olhar a fundo a distribuição de pesquisadores por área é possível perceber a predominância de homens. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP) a partir de dados da Academia Brasileira de Ciências (ABC), na área de Engenharia, Ciências Exatas e da Terra, Engenharia Elétrica possuía 13 mulheres e 269 homens. Em Física, 101 mulheres para 806 homens e em Matemática, 29 mulheres para 271 homens.
A física, doutora em Engenharia de Materiais e pesquisadora no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron do Centro Nacional de Pesquisa e Energia em Materiais (CNPEM), Cristiane Rodella, conta que encontrou dificuldades para ingressar na área científica. “O meu espaço na ciência e pesquisa eu sempre conquistei com muito empenho, estudo e esforço. Eu tive algumas dificuldades na minha carreira por ser mulher e ao ser questionada por ser mulher. Essas dificuldades refletiram no tempo de evolução da minha carreira científica”.
Por outro lado, as mulheres são a maioria em pesquisas relacionadas a ciências da saúde e humanidades, com exceção das áreas de Medicina, Odontologia, Direito e Economia.
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Simone Maia Evaristo é bióloga no Instituto Nacional do Câncer (INCA), professora e pesquisadora na área de citopatologia. Ela conta que foi desestimulada a se tornar cientista por pessoas próximas. “Ouvia ‘isso não dá dinheiro, não é para você’, o que eu acabei esquecendo e também não levei em consideração”, desabafa.
Para a física Cristiane,
Com o objetivo de incentivar a participação das mulheres na ciência, a Unesco criou o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, comemorado anualmente no dia 11 de fevereiro.
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A bióloga Simone conta que nunca se sentiu pesquisadora, embora tenha começado a se envolver com ciência aos dez anos. “Eu tive que fazer um trabalho na escola sobre alimentação e eu adorava fazer a pesquisa, correr atrás, ver informes. No final concluí que em uma região, na época da seca, o uniforme dos militares era o menor da área do nordeste por conta da falta de alimentação. O fato de eu perceber isso só usando os papéis me deixou maravilhada”, conta. Porém, Simone só foi ser chamada de pesquisadora pela primeira vez anos mais tarde, em uma reportagem sobre mulheres coragem.
O primeiro contato com a ciência de Cristiane também foi durante o Ensino Fundamental, em uma instituição pública. “Nessa época eu já havia percebido que gostava desse mundo de laboratório, das investigações e descobertas. Já no colegial, todo ano tinha feira de ciências e eu sempre tomava a iniciativa e liderança para elaborar, executar e apresentar os experimentos. Meu envolvimento profissional com ciência veio quando fui fazer iniciação científica durante minha graduação de física. Eu aprendi muito nessa época, desde consertar tomadas até a síntese e caracterizações de cerâmicas. O aprendizado também foi além da bancada, pois passamos a ter prazos para cumprir, interação com outros colegas de grupos e técnicos, reuniões para expor os resultados e relatórios para escrever. Todas essas demandas exigem o desenvolvimento de várias competências”, explica.
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A rotina de trabalho de uma cientista
Diferente de muitos trabalhos com tarefas e rotinas delimitadas, Sônia e Cristiane contam que a rotina de um pesquisador tende a ser mais flexível.
“No meu trabalho de pesquisadora, existem metas e vou atrás de cumpri-las da melhor maneira possível. No dia a dia tenho geralmente ‘urgências’ para resolver que podem ser administrativas, problemas com equipamentos, ajudar os alunos, responder e-mails, reuniões, fazer análise de dados, escrever projetos de pesquisa e relatórios. A vida de pesquisador é muito dinâmica na verdade, não dá para se entediar. O importante é ter em mente e na agenda as grandes metas, como sempre se informar sobre as novidades na ciência, ou seja, ler, estudar constantemente, planejar experimentos com os alunos e escrever artigos científicos para divulgar os resultados da sua pesquisa, por exemplo ”, explica Cristiane, que também está envolvida no projeto e montagem de novas instalações científicas no acelerador de partículas Sirius, em Campinas.
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Já Simone tenta incluir a pesquisa em toda a sua rotina. “Em tudo o que eu faço sempre dou um jeito de pesquisar. Eu trabalho analisando células, fazendo pesquisa e agora eu estou fazendo um trabalho junto com pessoas HIV de citologia anorretal. E, se eu estou dando aulas, eu cito minha pesquisa”.
Ela ressalta que o fato de ser solteira e não ter filhos, lhe garante uma liberdade maior para pesquisar, apesar de conhecer muitas mulheres que conciliam a vida pessoal e a carreira científica.
“Tem muita coisa que as próprias meninas não sabem o quanto elas já fazem de pesquisa. Eu acho que é [preciso] salientar o que é pesquisa. Não é só Prêmio Nobel, é a sua curiosidade de satisfazer e resolver um problema. Meninas, vocês estão sempre fazendo pesquisa sempre que têm curiosidade em resolver um problema. Ir mais a fundo, não só pesquisas de nome, mas a pesquisa da vida, do que você está trabalhando, a melhoria daquilo que você está construindo”, finaliza.
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