No Dia da Engenharia, a Revista Quero faz um raio-x sobre como andam os cursos de Engenharia no País.
Numa conversa há alguns anos com um doutorando alemão, neto de brasileiro, o assunto era educação. Comentei que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão ligado ao MEC, havia acabado de divulgar o Censo da Educação Superior de 2013 e apontava que, pela primeira vez, havia mais alunos matriculados em cursos de Engenharia no Brasil do que em Direito. Surpreso, ele perguntou:
O que vocês fazem com tantos advogados?
Nada contra a carreira do Direito, mas o espanto faz todo o sentido aos olhos de quem nasceu e cresceu num país reconhecido pela sua indústria e que foi reconstruído a partir dos escombros da Segunda Guerra Mundial.
A Engenharia é uma carreira fundamental para qualquer país fortalecer sua economia. Mas por aqui ela sofre com a má formação em Matemática dos alunos nos Ensinos Fundamental e Médio, que evitam os cursos de Ciências Exatas por esse motivo. Além disso, em vez de impulsionar o crescimento do País, é a carreira que acaba sendo impulsionada ou não pelos momentos em que a economia vai bem ou mal. Veja só, foi o crescimento econômico da última década que aqueceu a contratação de engenheiros, principalmente, com formação em Engenharia Civil para suprir a expansão da construção civil. Foi graças a esse boom de empregos que houve a virada.
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Ao avaliar dados do Censo da Educação Superior, do Inep, os analistas do Quero Bolsa constataram que os cursos de Engenharia deixaram a terceira posição no ranking de matrículas no Ensino Superior, em 2010, para assumir o primeiro lugar em 2013. O pico de alunos matriculados foi atingido em 2015, quando, pela primeira vez, mais de 1 milhão de alunos cursaram Engenharia no Brasil.
“A quantidade de engenheiros em formação dobrou em cinco anos. Não chegava a meio milhão em 2010. O crescimento econômico atraiu muita gente para a carreira. Agora, aguardamos os próximos dados do Censo para confirmar o quanto a crise, de fato, irá afetar a trajetória da oferta de vagas e das matrículas, uma vez que houve uma leve queda em 2016”, avalia Pedro Balerine, diretor de Inteligência do Quero Bolsa.
Os números levantados pelo Inep e analisados pela equipe do Quero Bolsa mostram que há no Brasil 4.193 cursos de Engenharia e 1,004 milhão de alunos matriculados (Censo 2016). No ano anterior havia menos cursos (3.848), mas o total de estudantes era maior (1,010 milhão).
Tendência
É fato que o mercado de trabalho absorve em diferentes funções quem tem formação em Engenharia. Além da indústria e da construção, o setor de serviços, em especial os bancos, é também um grande empregador daqueles que carregam nas mãos um diploma de engenharia. No time do Quero Bolsa há dezenas de engenheiros, muitos deles trabalhando em área que, inicialmente, ninguém diria que é lugar para eles, como no Desenvolvimento de Produto e Marketing.
Apesar da alta empregabilidade, o próprio Quero Bolsa notou que vem diminuindo a procura por cursos de Engenharia. No site, Engenharia Civil, por exemplo, deixou de ser o terceiro curso mais buscado para ocupar agora a 12ª posição. A queda também foi sentida no curso de Arquitetura e Urbanismo, ambos ligados à construção.
Concentração versus fragmentação
A Engenharia tem uma característica única. É a carreira com maior quantidade de habilitações possíveis, segundo o Censo da Educação Superior. São 141 opções, que vão do espaço (Engenharia Aeroespacial) às profundezas da terra (Engenharia Geológica). Nas faculdades brasileiras há, por exemplo, oito habilitações diferentes para quem escolhe fazer Engenharia Ambiental. Apesar da grande fragmentação, cinco carreiras da Engenharia concentram 75,7% dos alunos matriculados. Os 24,3% restantes se dividem nas demais 136 habilitações.
Quando avaliados separadamente, os cursos de Engenharia Civil, Engenharia de Produção e Engenharia Mecânica são os três com mais estudantes matriculados, mas só a Civil aparece entre os 10 cursos com mais alunos. Nesse caso, a lista passa a ser encabeçada por Direito, com 860 mil alunos.
Mensalidades
Para quem quer cursar Engenharia, o Quero Bolsa apurou os preços médios dos cinco cursos de Engenharia com mais alunos em 10 capitais brasileiras. Rio de Janeiro, Porto Alegre* e Curitiba são as localidades com as mensalidades mais altas. Já Recife apresentou os menores valores médios. Por sua vez, a capital paulista figura entre as cidades mais baratas para realizar a graduação, devido à grande oferta de cursos. A análise foi feita com base nas mensalidades integrais (sem desconto) praticadas em 87 instituições que oferecem os cursos avaliados na cidades onde ocorreu o levantamento.