Por pertencerem a mesma área do conhecimento e terem até mesmo nomes parecidos, é comum surgirem dúvidas a respeito dos cursos de Engenharia Aeronáutica e Engenharia Aeroespacial. Porém, como você pode ter percebido pelo título, há diferenças fundamentais entre as duas formações e, consequentemente, no exercício das profissões após a conclusão da graduação.
Para falar sobre o que os distingue e as particularidades de cada área, a Revista Quero conversou com o coordenador do curso de Engenharia Aeronáutica da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Luis Henrique Santos, e com o coordenador do curso de Engenharia Aeroespacial da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Guilherme Papini.
Engenharia Aeronáutica x Engenharia Aeroespacial
De acordo com o o coordenador do curso de Engenharia Aeroespacial da UFMG, Guilherme Papini, até o momento não há a competência específica do engenheiro aeroespacial. "Na prática, o engenheiro aeroespacial da UFMG, cuja base é a engenharia mecânica, está qualificado para trabalhar nas áreas aeronáutica e na astronáutica. Já o engenheiro aeronáutico não tem toda essa abrangência, ficando restrito ao setor aeronáutico", ressalta.
Porém, por mais que as duas formações possuam disciplinas em comum, elas se diferenciam no direcionamento.
"O engenheiro aeronáutico possui uma formação destinada ao trabalho, projeto e manutenção de aeronaves fixas e rotativas. Em outras palavras, o engenheiro aeronáutico estuda para trabalhar com aviões e helicópteros. A Engenharia Aeroespacial está pautada já no projeto da construção de veículos aeroespaciais, ou seja, satélites, satélites artificiais, foguetes, sondas espaciais, então a gente pode observar que tem uma diferença em termos de foco de estudo", explica o coordenador do curso de Engenharia Aeronáutica, Luis Henrique Santos.
Engenharia Aeroespacial
Com duração média de cinco anos, o bacharelado em Engenharia Aeroespacial capacita profissionais para o projeto e construção de sistemas de veículos aeroespaciais como satélites, satélites artificiais, foguetes e sondas espaciais. Sendo assim, ao longo do curso, a maior parte das disciplinas são voltadas para o campo espacial.
Papini elencou algumas características consideradas para os estudantes e profissionais de Engenharia Aeroespacial:
- Ser criativo;
- Ser empreendedor;
- Saber gerir bem a sua vida acadêmica;
- Ter capacidade de trabalho em equipe, além de responsabilidade técnica;
- Falar, no mínimo, inglês.
Quanto ao fato de ainda não existir a competência de engenheiro aeroespacial no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), órgão responsável por regulamentar as profissões de Engenharia e Agronomia, o coordenador assegura que isso não reflete na contratação desses profissionais. "Os engenheiros aeroespaciais têm se inserido com muita facilidade no mercado de trabalho, em especial na Embraer, e até mesmo criado empresas como a AERON, de egressos nossos, de grande sucesso no mercado. Existem aqueles também que têm supervisionado oficinas de manutenção e revisão de aeronaves em todo o Brasil, função esta que exige as atribuições plenas de engenharia aeronáutica, conforme estabelecido nos Regulamentos Brasileiros de Homologação Aeronáutica (RBHA). Também temos muitos egressos trabalhando no INPE, tendo a nossa ênfase astronáutica", acrescenta.
Para se destacar na área, Papini evidencia a importância de se comunicar bem, ter inteligência emocional nos momentos de crise e ter conhecimentos sobre macroeconomia.
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Engenharia Aeronáutica
A duração da graduação em Engenharia Aeronáutica também é de cinco anos, mas o curso é voltado para o trabalho, projeto, construção e manutenção de aviões e helicópteros.
O perfil dos alunos e profissionais dessa área é semelhante ao dos engenheiros aeroespaciais, mas o coordenador Luis Henrique Santos adiciona algumas características:
- Ser curioso;
- Ter capacidade para solucionar problemas;
- Ter autonomia;
- Ter iniciativa.
Ele também dá destaque para a importância de falar pelo menos um segundo idioma. Para aqueles que desejam ir além, saber se comunicar em francês também pode ser um diferencial. "Na aviação a gente utiliza o inglês como língua padrão, e uma segunda língua é o francês. O inglês porque os Estados Unidos é muito forte na aviação e convencionou-se dentro da indústria aeronáutica utilizar o inglês independente da nacionalidade. E o francês em função da Airbus, uma fabricante muito forte na Europa, e como grande parte do seu parque industrial está alocado na França, então o francês seria um segunda língua muito importante para se aprender", esclarece Santos.
No Brasil, o coordenador conta que os profissionais formados podem atuar, além da indústria de fabricação e montagem de aeronaves, em obras e serviços ligados à infraestrutura aeroportuária, construção de aeroportos e gerenciamento do tráfego aéreo.
Mas para aqueles que possuem interesse em construir uma carreira internacional, Santos aconselha participar de grupos de estudo internacionais de estudo ainda na formação e, se possível, realizar um intercâmbio. Esse pode ser um grande diferencial e, por isso, é muito importante consultar quais instituições oferecem esses serviços aos alunos antes de efetuar a matrícula.
Após a formação, o coordenador recomenda o ingresso em uma especialização. "É muito interessante que o concluinte da engenharia aeronáutica continue estudando. A indústria aeronáutica é uma das indústrias mais tecnológicas dentre as demais, então é necessário que o engenheiro aeronáutico continue fazendo uma atualização dos conhecimentos constantemente", destaca. Por isso, os cursos de pós-graduação são muito importantes.
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