No último domingo (02), um incêndio de grandes proporções destruiu o Museu Imperial da Quinta da Boa Vista, conhecido popularmente como Museu Nacional, que está localizado no Rio de Janeiro (RJ).
A instituição tinha completado 200 anos de existência em junho deste ano e é considerado o mais antigo museu de história natural e de antropologia das Américas.
O motivo do fogaréu, que começou por volta das 19h30 e foi controlado às 02h, será investigado. Segundo a assessoria do Museu, não houve nenhum ferido. Entretanto, quatro vigilantes estavam no local no horário que o incêndio começou, mas conseguiram sair das instalações a tempo.
Em nota enviada à imprensa, o Ministério da Educação (MEC) lamentou o ocorrido: “o MEC não medirá esforços para auxiliar a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no que for necessário para a recuperação desse nosso patrimônio histórico”.
Além disso, o presidente Michel Temer também divulgou uma declaração pública sobre o incêndio: “Incalculável para o Brasil a perda do acervo do Museu Nacional. Hoje é um dia trágico para a museologia de nosso país. Foram perdidos duzentos anos de trabalho, pesquisa e conhecimento. O valor para nossa história não se pode mensurar, pelos danos ao prédio que abrigou a família real durante o Império. É um dia triste para todos brasileiros".
Crise financeira
Segundo uma reportagem feita pelo Bom Dia Brasil, há cerca de três meses o Museu Nacional funcionava com verba reduzida.
A instituição, que deveria receber anualmente uma verba de 550 mil reais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), há mais de três anos operava com apenas 60% desse valor, fazendo com que houvesse falta de recursos para a área de pesquisa e manutenção da instalação e, por consequência, reduzindo as áreas de exposição pública.
A direção do Museu chegou a fazer uma "vaquinha virtual" para conseguir arrecadar o valor necessário (cerca de 100 mil reais) para conseguir reabrir uma das alas mais importantes do local, o Dino Prata, um dinossauro de mais de 13 metros que foi descoberto em Minas Gerais, e que viveu há 80 milhões de anos na Terra.
Após essa reportagem do telejornal, o MEC informou que os repasses à UFRJ, universidade responsável pelo Museu, serão maiores do que o do ano passado.
Além das informações descobertas pelo Bom Dia Brasil, alguns outros veículos de comunicação reportavam há anos a crise financeira que o instituição atravessava.
A história do Museu Nacional
Antes de ser museu, o palácio de São Cristóvão foi lar oficial da família real no Brasil entre os anos de 1816 e 1821, sendo que foi ela a responsável pelas coleções de obras que deram origem ao acervo.
O prédio presenciou diversos momentos históricos como, por exemplo, a assinatura da independência do Brasil em 1822, feito pela princesa Leopoldina, esposa de Dom Pedro I. Além de também ter sido palco para a primeira Assembleia Constituinte da República, que determinou o fim do período monarca no País, instaurando a república.
Apesar de ter sido criado em 1818, há exatos 200 anos, por D. João VI como Museu Real, foi apenas em 1892 que o palácio tornou-se lar do Museu Nacional, sendo que em 1946 a instituição foi vinculada oficialmente à UFRJ.
O prédio é tombado desde pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1938.
20 milhões de itens em acervo
Após 200 anos de criação, o Museu tinha conseguido chegar a 20 milhões de itens em seu acervo. Algumas das peças são:
Meteorito do Bendegó
Encontrado do sertão da Bahia no século 18, esse foi o maior meteoro já encontrado em território brasileiro. Seu peso passa de cinco toneladas.
Luzia
Apelidado de “Luzia”, esse é o fóssil mais antigo encontrado nas Américas, datado entre 11.500 a 13.000 antes da data presente.
História indígena
Diversos itens da história indígena no Brasil estão no Museu Nacional, entre eles: trajes cerimoniais, máscaras, vasos e esculturas (algumas delas com mais de cem anos de existência).
Coleções do descobrimento do Brasil
Por ter sido o lar da família real, o local possui diversas peças da época do descobrimento do Brasil até o fim do império.
Arqueologia egípcia
Sendo a maior da América Latina e a mais antiga das Américas, a coleção de arqueologia egípcia possui mais de 700 itens. Entre os destaques estão: o sarcófago da cantora Amón, adquirido por Dom Pedro II, que nunca foi aberto e permanece intacto, outros três sarcófagos, seis múmias humanas, além de uma coleção de animais mumificados.
Clique no tweet abaixo para ver algumas fotos do acervo do Museu Nacional:
O Museu Nacional ERA o detentor do MAIOR ACERVO de história natural e antropologia da América Latina. ERAM mais de 20 MILHÕES de itens catalogados.
— tem que acabar o jovem (@leuavila) 3 de setembro de 2018
Vou colocar umas coisas que foram perdidas. Todo mundo tem que chorar junto sim.
Em nota para o UOL, a assessoria de imprensa do Museu disse que “as perdas são incalculáveis e é possível que quase todo o acervo tenha sido consumido pelas chamas”.