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Vestibular e Enem

Repetição de questões do Enem é reflexo da crise do Inep, afirmam especialistas

por Camilla Freitas em 01/04/22 1 mil visualizações

Um documento interno do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), divulgado pela reportagem do UOL na última terça-feira (29), revela que gestores do Inep propõem a repetição de questões no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2022

Segundo os gestores do órgão que redigiram o documento, a proposta foi feita por conta da escassez de questões aptas para o Enem no Banco Nacional de Itens (BNI). Além disso, a sugestão garante a aplicação do exame neste ano e a implementação do Novo Enem.

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Repetição de questões do Enem é reflexo da crise do Inep, afirmam especialistas
Foto: Marcello Casal Jr/Agencia Brasil

Veja, a seguir, um trecho do documento:

Buscando garantir a segurança e a aplicação das edições de 2022 e 2023, e ao mesmo tempo garantir as condições para a implantação do novo Enem 2024, sugerimos que o edital da edição de 2022 traga a possibilidade de utilização de itens já aplicados com a seguinte redação: "A edição 2022 do Enem poderá utilizar itens inéditos e itens já utilizados em edições anteriores".

De acordo com o UOL, a proposta foi assinada por quatro membros novos do Inep. Os coordenadores e diretores assumiram seus cargos após uma das maiores crises no órgão, marcada pela demissão coletiva de 37 servidores.

Escassez no banco de questões do Enem

No documento, os coordenadores e diretores do Inep divulgaram uma tabela com a quantidade de questões disponíveis no BNI. Ao todo, 225 itens estão adequados para a utilização no Enem, porém esse número de questões não é suficiente para a edição de 2022.

Para a aplicação do exame são necessários 360 itens. Isso porque a prova do Enem é composta por 180 questões, e além do Enem regular, o Inep precisa formular também o Enem PPL, para Pessoas Privadas de Liberdade e Jovens Sob Medida Socioeducativa. 

Documento do Inep obtido pelo UOL

O que dizem os especialistas

De acordo com os especialistas ouvidos pela a Revista Quero, essa proposta é reflexo da crise de gestão no Inep e mostra o descaso com a educação brasileira.

Segundo Claudia Costin, diretora do Ceipe (Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais) da FGV, infelizmente trata-se de uma proposta ruim. 

"Imaginar que um banco de questões, que demandava um planejamento que não foi feito pela direção atual do Inep, em que se possam repetir perguntas já demonstra a falta de cuidado que a atual gestão", afirmou a diretora.

Para Francisco Carlos D'Emílio, mestre em Políticas Públicas de Ensino e consultor da Fundação FAT, o documento mostra um despreparo da gestão e é desrespeitoso com os alunos que se preparam para ingressar no ensino superior.  

"Provas com questões repetidas comprovam o imenso descaso com o maior evento da Educação do País.  Mostra ainda total desprezo do gestor da educação com a geração que se dedica para esta prova. É apenas mais um sinal de desdém e de falta de atenção com os estudantes, que investem tempo e, no final, são obrigados a decidir sua carreira em uma prova desrespeitada e desrespeitosa", comentou.

Costin aponta ainda os pontos negativos da repetição de questões no Enem 2022: 

" O problema de responder questões é que de uma certa maneira piora ainda mais as oportunidades dos alunos que estão em situação de vulnerabilidade, porque aqueles que têm acesso a cursinhos e à internet, acabam tendo acesso às questões de anos anteriores".

Na visão de Fernando Santos, especialista em avaliações do Poliedro Sistema de Ensino, essa proposta demanda a atenção da sociedade e de gestores públicos. 

"Pode-se colocar em risco as recentes reformas educacionais, como a implementação da BNCC e do Novo Ensino Médio, e iniciar uma competição desenfreada nos estudantes de 2ª e 3ª séries e Pré-vestibulares em 2022, por terem de decorar questões das aplicações anteriores do Enem, em vez de focar em realmente aprender conceitos e desenvolver habilidades que serão avaliadas no exame".

Santos afirma que alguns exames utilizam reaproveita os itens, como o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), porém não há divulgação da prova, somente ocorre a publicidade de alguns itens que deixam de fazer parte do banco gerador de provas.

"Quando se cogita reaproveitar itens de provas que já foram aplicadas, não só a credibilidade do Exame pode ser abalada, mas também a eficácia em estimar a proficiência dos estudantes", comenta.
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Novo Enem

No dia 17 de março, o ex-Ministro da Educação, Milton Ribeiro, e o secretário de Educação Básica do MEC, Mauro Rabelo, apresentaram o Novo Enem, resultado de uma reestruturação no exame com base no Novo Ensino Médio, implantado neste ano pelo MEC.

O Novo Enem acontecerá em dois dias, com questões objetivas e discursivas. No primeiro dia os estudantes terão que responder questões de formação básica geral e desenvolver uma redação, já no segundo dia, os participantes do exame deverão responder questões de conhecimentos específicos, relacionadas ao curso pretendido. 

O objetivo do MEC é que o novo exame seja aplicado a partir de 2024 para os candidatos que já concluíram o Ensino Médio.

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Crise no MEC

O Ministério da Educação (MEC) passa por um momento de crise. Nesta segunda-feira (28), Milton Ribeiro, que assumia o ministério, foi exonerado do cargo após a divulgação de um áudio em que afirmava favorecer o repasse de verbas a pastores indicados por Bolsonaro. 

Milton Ribeiro foi o quarto ministro da educação do governo Bolsonaro e sua gestão foi marcada por polêmicas. Em uma de suas declarações, o ex-ministro defendeu que as universidades deveriam ser "para poucos". 

Agora, quem assume a pasta é o ex-secretário executivo do MEC, Victor Godoy Veiga.

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Crise no MEC: em áudio, ministro da Educação afirma favorecer pastores; entenda o caso

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