Há 60 anos, no dia 21 de abril de 1960, era inaugurada oficialmente a nova capital do Brasil: Brasília. A história da cidade não começou com povoamento e processo de urbanização comum. Brasília foi uma cidade planejada e construída especificamente para ser a sede do governo central.
A construção de Brasília fez parte da propaganda nacional e desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek (JK). As obras foram concluídas às pressas e tiveram altíssimo custo financeiro e humano.
Por que uma nova capital?
Desde 1763, a então capital do Brasil era a cidade do Rio de Janeiro. A mudança já estava prevista na primeira constituição republicana de 1891:
“Fica pertencendo à União, no planalto central da República, uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcada para nela estabeIecer-se a futura Capital federal”.
O reconhecimento e demarcação da região foi feita em 1892, no governo de Floriano Peixoto, com a criação da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil - também chamada de Missão Cruls. A expedição foi chefiada pelo belga Luís Cruls, diretor do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro.
Mas, por que o governo escolheu um lugar desconhecido, tão distante e, praticamente, deserto? Por questões estratégicas e geopolíticas. O principal motivo era a estratégia militar de afastar a capital do Brasil da região litorânea, onde ficava vulnerável a ataques estrangeiros, em caso de guerra.
A interiorização da sede da capital também iria promover a ocupação e desenvolvimento do interior e a interligação dos centros econômicos do país, por meio das rodovias federais. Além disso, muitos especialistas também acreditam que ao distanciar a sede do país do centro urbano, a pressão popular contra o governo seria menor.
O contexto da construção
A projeto da construção de Brasília só saiu do papel em 1956, durante o governo de Juscelino Kubitschek (JK). A mudança da capital foi uma das promessas de campanha de JK. Ela fazia parte do Plano de Metas, uma política nacional e desenvolvimentista, que possuía o slogan “50 anos em 5”.
Nesse período, chamado de “anos dourados”, surgiu o estilo musical Bossa Nova. “Havia uma atmosfera de otimismo e valorização de tudo aquilo que representava o novo e moderno, o próprio presidente fora apelidado de 'Presidente Bossa Nova' dado o seu espírito jovem e empreendedor”, explica Pamela Pereira, professora de História do Cursinho Apoio Reforço Escolar.
A ideia era de JK era ampliar economicamente o país a ponto de parecer que 50 anos de desenvolvimento se passaram em apenas 5 anos, desenvolvendo as áreas de transporte, educação, alimentação, energia e indústria.
A construção e transferência da capital foi muito criticada pela mídia e pela oposição de JK. Eles acreditavam que a ideia era utópica e que o governo não tinha recurso financeiro para isso, o que geraria um endividamento externo, além de temerem o abandono da cidade do Rio de Janeiro.
Início da construção de Brasília
Para dar início ao projeto de Brasília, JK criou a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), que tinha como seu diretor do Departamento de Urbanismo e Arquitetura Oscar Niemeyer - arquiteto reconhecido internacionalmente.
A Novacap realizou um concurso público entre arquitetos brasileiros para a escolha do projeto arquitetônico da capital. Em 1957, o plano piloto que mais agradou os jurados foi o do arquiteto carioca Lúcio Costa.
O plano piloto de Lúcio Costa lembra o formato de um avião e muitos acreditam que o desenho significa “voar em direção ao progresso”. Mas, o relatório original confirma que Lúcio Costa fez a cidade em formato de cruz. A proposta era formar dois eixos de deslocamento, o eixo principal na vertical e o eixo horizontal, com a “Asa Sul” e a “Asa Norte”.
Os edifícios foram projetados por Niemeyer, que se inspirou na estética modernista da época. Na arquitetura modernista, a cidade tem quatro funções humanas básicas: habitar, trabalhar, cultivar corpo e espírito e circular.
O resultado um projeto de uma cidade bem organizada, com grandes áreas verdes e com edifícios esculturais afastados um dos outros. Pelo contexto desenvolvimentista, o projeto também priorizou a locomoção de automóveis pela cidade.
“Brasília é uma capital moderna, pensada para refletir as tecnologias e o progresso industrial do tempo em que foi projetada”, pontua Rolando Vezzoni, criador do canal ReVisão, que produziu um vídeo sobre a construção da capital.
A obra aconteceu em um ritmo frenético, o prazo de entrega era de quatro anos. Além da construção da cidade em si, era necessário abrir rodovias e ferrovias para o deslocamento de pessoas e obra-prima.
Quem construiu Brasília?
Rapidamente, o planalto central recebeu multidões de trabalhadores vindos de todo o país, principalmente do Nordeste. Os trabalhadores de Brasília foram chamados de fandangos. O termo era usado pelo Euclides da Cunha para descrever a aparência de sertanejos tristes e cansados.
Eles viajavam mais de 40 dias na carroceria de caminhões, muitas vezes só com a roupa do corpo. Castigados pela seca e miséria, os fandangos eram atraídos pela oferta de novas oportunidades e de uma nova vida na futura capital.
Mas, a realidade durante as obras foi outra. Os fandangos trabalhavam e moravam em péssimas condições. Os acidentes e mortes pelo trabalho sem segurança e pelas condições precárias eram comuns.
Para apressar as obras, muitos trabalhadores eram obrigados a trabalhar dia e noite. Os salários eram baixos e, muitas vezes, pagos irregularmente. Além disso, os fandangos sofriam com a repressão, abuso e violência da polícia.
Inauguração da nova capital
Em 1960, a cidade de Brasília foi inaugurada com uma grande festa, mesmo com as obras inacabadas. A transferência das sedes do governo e a construção só terminaram de vez na década de 1970.
A inauguração aconteceu no dia de Tiradentes. De acordo com os registros, a escolha da data foi uma homenagem ao episódio da Inconfidência Mineira, em 1785, onde já era citada a necessidade de interiorização da capital do Brasil.
Consequências da construção
A construção da nova capital representou um rombo nos cofres públicos, até hoje não se sabe ao certo quantos milhões foram gastos; os valores estimados variam de 40 a 80 bilhões de dólares.
Houve falta de planejamento financeiro, recursos mal administrados, gastos desenfreados e verba desviada. Como consequência, nos anos seguintes, a inflação disparou, a população empobreceu e a desigualdade social cresceu.
Outra consequência foi a desigualdade regional. A cidade de Brasília foi planejada para suportar até 500 mil habitantes. A ideia era que os fandangos fossem embora após o fim das obras, o que não aconteceu. Os acampamentos precários e irregulares dos trabalhadores em torno da capital deram origem às chamadas cidades satélites.
Em oposição às consequências negativas da construção de Brasília, “havia sua representação como símbolo da modernização e industrialização do país após anos de atraso econômico e de uma economia majoritariamente agroexportadora”, completa Pamela.
Pode cair no enem?
O professor Pedro Rennó, professor de História e Filosofia do canal do Youtube Parabólica, comenta que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não costuma cobras temas por datas de aniversário. “Se a construção de Brasília for cobrada, é mais pela sua importância na História do Brasil”, pontua.
Para a professora Pamela, o tema pode cair sim, pois a prova tem dado ênfase à temas ligados a História do Brasil. Além disso, a construção de Brasília permite a interdisciplinaridade com temas da Geografia, como demografia, cidadania, trabalho, democracia e economia.
Caso esteja presente no Enem, os professores acreditam que os temas cobrados podem ser os motivos da construção, o contexto histórico, as consequências, a integração territorial, o isolamento do centro de decisão política do país e a implementação dos sistema rodoviário de transportes.
O professor Pedro ainda destaca o êxodo rural, que movimentou trabalhadores de regiões mais pobres para centros urbanos em desenvolvimento, e a atuação dos candangos.
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