Atualizado em 27/03/2020
A presença de estudantes mais velhos nas faculdades é uma tendência. Eles têm idade para serem pais ou até avôs e avós mas, ao além das preocupações típicas das pessoas de meia idade, como contas a pagar, criação dos filhos e desdobramentos da vida profissional, também dedicam seu tempo e energia para provas, trabalhos, presença nas aulas e a busca de estágios.
De acordo com dados do Ministério da Educação (MEC) referentes à década passada, um em cada três universitários brasileiros tem mais de 30 anos. E o crescimento de matrículas de alunos com mais de 50 anos foi de 182%, bem maior que os 72% registrados para a faixa etária de quem tem menos de 50 anos.
Essa nova categoria de estudantes está longe de ter um perfil homogêneo. Há os que fazem a segunda ou terceira graduação, os que já começaram vários cursos e não terminaram e os que nunca estiveram em um banco universitário na vida. Apesar do currículo escolar variado, trazem em comum a experiência de vida e uma relação madura com os estudos.
É o caso da funcionária do Tribunal de Justiça de São Paulo, Estela Ribas, ela aproveitou as condições especiais que a administração pública fornece – horário de trabalho diferenciado para estudantes e bolsa que ajuda a pagar a graduação – para realizar um sonho e ingressar no curso de Direito da Estácio de Sá em Ribeirão Preto. “Para a minha atuação profissional, é um excelente curso. Inclusive irá possibilitar aumento na remuneração”, disse ela, que nunca tinha cursado um curso superior.
“Estar de volta aos estudos, depois de tanto tempo longe - são quase 25 anos fora das salas de aula - é renovador. Não só pelo fato de botar o cérebro pra funcionar de novo, mas pra renovar o espírito também. Estar no meio dos jovens faz isso com a gente, renova a alma, traz a energia própria da juventude, faz a gente ter novos sonhos e objetivos”, conta.
Estela conta que se motivou a estudar ao ver o filho, João Pedro, 21, ingressar no curso de Direito da Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto). “Ficava conversando com ele sobre o curso e resolvi tentar”, lembra ela, que acredita, ainda, que, por ser a aluna mais velha da sala, acaba virando a mãezona da turma.
“A gente criou um grupo de umas sete, oito pessoas. Metade é mais velho e metade é de molecada. Eu tenho 44, sou a mais velha, e tem também meninos com 17, 18 anos. A gente compartilha com eles as ambições. Ensina, por conta da experiência de vida que temos, mas aprendemos muito também. Não sei dizer em palavras o que a gente aprende, mas é muita coisa”, relata.
Colega de sala de Estela e um dos “coroas” a que ela se referiu, o agente penitenciário Marcos Magalhães, 38, é outro que nunca havia cursado uma universidade. Ele terminou o ensino médio através do EJA (Educação de Jovens e Adultos) e relata que, por conhecer o sistema prisional por dentro, resolveu fazer Direito. “Eu vejo o Direito como a minha profissão em alguns anos. Sou concursado e em mais dez anos devo me aposentar. Como me formo em quatro, pretendo exercer a advocacia depois disso”, conta.
Como é voltar aos estudos?
A vida universitária, porém, não é novidade para todos os alunos sênior. Alguns, como o professor Abdias Jesus dos Santos, 58 anos, estudante do curso de Psicologia da Anhanguera em Ribeirão Preto, já conhecem de longa data a rotina de estudante universitário. Quase 30 anos depois ingressar no curso de Letras da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Assis, voltou aos bancos escolares.
Para ele, a experiência tem sido recompensadora. “Eu sou professor, mas sempre gostei de psicologia. Quando me aposentei, resolvi investir nesse sonho e pretendo exercer essa profissão depois de formado”, conta.
Abdias também ressalta outra característica comum a quem encara o curso superior depois dos 30 é a presença no mercado de trabalho: a menor preocupação com o retorno financeiro que a nova profissão irá proporcionar.
“A grande maioria desse público já tem a profissão e consegue se manter com recursos próprios, o que é bem mais raro entre os jovens. Ao invés da preocupação com conseguir uma profissão e ingressar no mercado de trabalho, o mais comum é encontrar pessoas que buscam novos conhecimentos”, relata.
E essa realidade expressa por Abdias é ainda mais verdadeira entre os universitários com mais de 60 anos. E o fenômeno, segundo a gerontologista Rosa Chubaci, da USP (Universidade de São Paulo), deve ser cada vez mais observado.
"Antes, dizia-se que a terceira idade era marcada por um declínio da capacidade de aprendizado. Hoje, vemos, cada vez mais, um envelhecimento ativo. Os idosos de hoje querem oportunidades, querem concretizar seus sonhos", avalia.
É o que sente a estudante mestranda em pedagogia Tereza Brandolim Moro, 65, que iniciou a graduação aos 58 anos e engatou a pós na sequência. “Não quero saber de tricô”, brinca ela.
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