"Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?"
A música "É uma partida de futebol", da banda mineira Skank, canta o sentimento de milhões de crianças do Brasil e do mundo. Apaixonados e apaixonadas por futebol, em algum momento da vida, já se imaginaram vestindo a camisa do seu time do coração ou jogando uma Copa do Mundo pela sua seleção.
Mas realizar esse sonho não é tarefa simples. Para se destacar em um time da elite brasileira, é necessário muita dedicação, técnica, investimento e ainda contar com a sorte.
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Há, também, muitas carreiras para se trabalhar com o esporte fora dos gramados, afastado dos holofotes e dos patrocínios milionários. E, para ingressar no tão sonhado mundo do futebol, já é possível fazer uma faculdade sobre o esporte e se especializar em assuntos teóricos e técnicos.
Curso forma estudiosos do Futebol
Em São Paulo, o Centro Universitário UniDrummond disponibiliza o curso tecnólogo de Futebol. Ele é voltado para quem almeja trabalhar com o futebol fora das quatro linhas, seja como treinador, analista, preparador de goleiros e outras funções na comissão técnica. É preciso ser apaixonado pelo esporte para fazer o curso.
É o que diz o coordenador Wagner Martinho. "O profissional tem que gostar de futebol. A gente fala muito sobre técnicas, táticas e treinamentos". Segundo ele, o curso "abre caminhos para se aprofundar nas áreas de maior interesse ligadas ao futebol".
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O curso tem duração de dois anos. Nele, os alunos começam a ter um contato maior com o esporte e a se inserirem no meio durante a faculdade. "A finalidade do curso é prepará-los para o mundo do Futebol, deixando já um bom caminho andado para qualquer área que eles se interessem depois", afirma Wagner.
Wagner já foi auxiliar de Telê Santana, no São Paulo, e de Vanderlei Luxemburgo, no Corinthians. Se destacou na área da tecnologia esportiva e teve passagem pela seleção brasileira sub-20. Atualmente, além de lecionar na UniDrummond, também trabalha com análise de jogo no Juventus (SP).
Os alunos do curso ainda têm contato com grandes clubes de São Paulo e com gente inserida no mundo do futebol. "É uma faculdade que é voltada para o lado do esporte, então nós temos uma grande parceria com os clubes de futebol". Wagner diz que os alunos fazem aula nos clubes e recebem membros de comissões técnicas.
"Muitos treinadores vêm ao curso para falar sobre suas equipes, sobre seu modo de jogar. Isso faz com que o aluno passe a enxergar o jogo de uma maneira diferente, não como torcedor, mas sim como um profissional do futebol", completa.
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Bruno Gabrieli, ex-aluno da UniDrummond, confirma a fala de seu professor. "Eu era um mero torcedor, nunca tinha trabalhado com esporte. Eu não sabia mais do que sabe qualquer torcedor por ver jogo, por conversar, por ler jornal, ler matérias sobre o futebol. Nada mais do que isso", afirma.
No Juventus, Wagner recebe alunos que se destacam na faculdade. "Sempre tem três ou quatro alunos ou ex-alunos trabalhando aqui comigo. Eles aprendem análise de desempenho trabalhando no dia a dia".
A análise de desempenho e a modernização do futebol
O tema da análise de desempenho é bastante trabalhado durante a faculdade de Futebol. Com muita experiência na área e um dos pioneiros da posição no Brasil, Wagner sabe a importância que o analista tem para o esporte.
"O analista de desempenho é um cargo novo, mas a faculdade vai aflorar essa vontade no aluno. Ele passa hoje a ser um analista de desempenho como se ele fosse um auxiliar do treinador, municiando o treinador de informações relativas à equipe dele, o que ele viu durante o jogo e sobre a equipe adversária", explica Wagner.
O estudo do jogo se encaixa no contexto de modernização do futebol, e os alunos se preparam para exercer esse papel. "O curso trabalha muito para modernizar o futebol. Os alunos aqui não estudam só o futebol", comenta Wagner.
"Forçamos para que esse departamento de análise de desempenho possa interagir também com os outros departamentos, ajudando todos, sempre levando uma ajuda efetiva para que tudo isso aqui se transforme em uma equipe transdisciplinar de trabalho".
Alunos encontram oportunidades e se destacam no mercado
No Brasil, 742 clubes profissionais estão registrados na Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Segundo o Transfermarkt, site alemão especializado no mercado futebolístico, as 20 equipes da série A do Campeonato Brasileiro de 2019 possuem, juntas, 728 jogadores com contratos vigentes. Isso equivale a 3,3% da quantidade total de contratos profissionais, que é 22.177, de acordo com relatório da CBF.
É um número pequeno para um mercado desejado por tanta gente. Mas o jogo não se resume apenas aos 22 jogadores dentro das quatro linhas. Estamos falando de um esporte que atraiu uma audiência de 3,57 bilhões de pessoas no Mundial da Rússia, em 2018 - o equivalente a 51,3% da população da Terra.
Há muita gente trabalhando ao redor para proporcionar esse espetáculo a tantos fanáticos. Uma formação tecnológica em futebol abre espaço para os profissionais em outras áreas fora das quatro linhas.
Bruno Gabrieli é formado em Fotografia e atuava na área. Em 2010, conheceu o curso de Futebol pela internet e, devido a sua paixão pelo esporte, ingressou na UniDrummond. "Resolvi fazer por que era um sonho trabalhar com futebol, assim como várias pessoas têm. De repente eu tive a vontade e levei pra frente", disse.
"As pessoas diziam que eu tava ficando meio louco. 'Como assim, cara? Você vai ser técnico?' Porque ser técnico de futebol e astronauta, todo mundo quer ser em algum momento na vida, mas ninguém vai atrás. Eu fui e fiz", completou Bruno.
Depois de se formar, ele começou a construir um currículo internacional no futebol. Se mudou para a Argentina, onde trabalhou nas categorias de base de clubes tradicionais, como River Plate e Argentinos Juniors. Neste último, conheceu o coordenador técnico Fernando "Bocha" Batista.
Graças à parceria com o argentino, a carreira de Bruno deu um salto e ele foi parar na seleção sub-20 da Argentina. Foi o primeiro estrangeiro da história a trabalhar em alguma categoria da seleção albiceleste. Fato curioso, ainda mais pela rivalidade futebolística entre brasileiros e argentinos.
Após terminar o ciclo na Argentina, Bruno e Bocha foram trabalhar na Europa. Lá, integraram a comissão técnica das categorias de base da seleção da Armênia. "A gente fez um trabalho bastante positivo lá, com números e uma evolução bem interessante".
Mulheres no futebol
Nem a seleção brasileira feminina é treinada por uma mulher. O atual técnico, Vadão, recebe muitas críticas pelo desempenho do trabalho. Na data da publicação desta matéria, ele vinha com nove derrotas consecutivas no comando do Brasil.
Emily Lima, primeira mulher a comandar a seleção feminina, teve um saldo muito mais positivo e não teve a mesma paciência dos dirigentes: foi demitida do cargo com sete vitórias, um empate e cinco derrotas depois de dez meses de trabalho.
A presença do público feminino no curso de Futebol também chama a atenção. Wagner destaca a importância do trabalho com as mulheres. "A gente tenta prepará-las para que elas possam trabalhar no futebol feminino, que vai ser um grande campo de trabalho, hoje ocupado por muitas pessoas do sexo masculino".
"Tentamos devolver esse lugar para as mulheres, para que as profissionais do sexo feminino possam estar atuando dentro de um lugar que é delas", conclui.
Reconhecimento da CBF
Os responsáveis pelo curso estão em conversas com a CBF e com a Federação Paulista de Futebol (FPF) para que o curso seja reconhecido oficialmente pelas entidades responsáveis pelo futebol brasileiro.