Atualizado em: 05/01/2022
Você já foi cancelado na internet? Se você costuma usar as redes sociais para se expressar, é provável que sim. De anônimos a famosos, de vivos a finados, a cultura do cancelamento não poupa ninguém.
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O que é cancelar alguém?
O cancelamento nada mais é do que o ato de boicotar, nas redes sociais, pessoas que tenham feito ou falado algo considerado moralmente errado ou politicamente incorreto, seja no ambiente virtual ou real.
Em geral, as personalidades famosas são as mais canceladas nas redes, por estarem mais expostas. Mas, pessoas desconhecidas e até mesmo aquelas que não estão presentes nas redes sociais também podem ser alvos do cancelamento.
O cancelamento de uma pessoa pode ocorrer por diversas ações, como o boicote a produtos e serviços de sua empresa, o unfollow em massa - a ação de deixar de seguir nas redes sociais - ou até mesmo a pressão para marcas e instituições romperem contratos com a pessoa cancelada.
Outra característica do cancelamento, típica das redes sociais, é a viralidade, ou seja, sua capacidade de se difundir rapidamente. A exposição e o cancelamento de uma pessoa pode repercutir de dezenas a milhões de usuários em questão de horas.
Na mesma rapidez que o cancelamento viraliza, ele também pode ser esquecido. Isso porque, ao mesmo tempo que os usuários trazem à tona publicações antigas das pessoas canceladas, no dia seguinte, os holofotes do cancelamento podem iluminar outras pessoas, deixando no esquecimento os cancelados de antes.
Por meio da exposição e amplificação do cancelamento, em geral, os usuários buscam explicações e retratações da pessoa cancelada ou a tomada de ação de instituições privadas ou órgãos do governo.
Como surgiu a cultura do cancelamento?
Não se sabe ao certo quando exatamente surgiu a prática virtual de cancelar pessoas. Hoje, o fenômeno do cancelamento é tão comum e complexo que ganhou até o nome de cultura.
Alguns especialistas acreditam que a cultura do cancelamento surgiu em meados de 2017, quando o movimento internacional #MeToo utilizava a hashtag para expor relatos de assédios e agressões sexuais, sobretudo no ambiente de trabalho.
Nesse contexto, também entra o fortalecimento dos movimentos sociais, como o movimento feminista, negro e LGBTI+, principalmente por meio do ciberativismo. Isso porque, nas redes sociais, esses movimentos ganham a voz e a audiência que não têm na mídia tradicional. Assim, eles podem exprimir seus pontos de vista e suas pautas ganham mais força.
Em busca de justiça social, esses movimentos utilizam as redes sociais, principalmente o Twitter, para expor autoridades e famosos que tenham publicado conteúdos ou se comportado de forma preconceituosa, racista, machista, homofóbica, xenofóbica, dentre outras.
Mas, o cancelamento também pode ocorrer por outros deslizes no padrão moralmente aceito por esses grupos, como o uso de uma expressão preconceituosa ou equivocada, o apoio a figuras consideradas contrárias aos movimentos e, até mesmo, o silêncio diante de casos de injustiça.
Veja também: Atualidades Enem: Ciberativismo
Cancelar: é bom ou ruim?
A cultura do cancelamento é um tema que divide opiniões entre os favoráveis e os contrários à prática virtual.
Alguns acreditam que esse tipo de manifestação nas redes sociais são formas de expor autoridades e figuras públicas privilegiadas e protegidas por seu status social. Há os que defendam também que as redes sociais dão espaço de fala a grupos social e historicamente excluídos.
Dessa forma, os cancelamentos trazem à tona velhos problemas sociais e dão a chance desses grupos amplificaram suas críticas, cobrarem ações de autoridades e figuras públicas e, até mesmo, fazer denúncias de violações aos direitos humanos.
Por outro lado, alguns especialistas afirmam que o ato de cancelar pessoas não promove, de fato, mudanças nas estruturas sociais nem proporciona pensamentos críticos.
Outros ainda consideram que a cultura do cancelamento é um tipo de linchamento virtual, no qual usuários buscam fazer justiça com as próprias mãos e agem de forma autoritária e punitiva.
Quais as consequências do cancelamento?
Em alguns casos, o cancelamento de uma pessoa é esquecido em dias e a vida da pessoa cancelada segue normalmente. Mas, em outras situações, o cancelamento virtual deixa consequências reais que duram a vida toda.
As pessoas canceladas, famosas ou não, podem ter diversos prejuízos financeiros e sociais, como perder amigos, clientes, fãs, contratos, patrocinadores, emprego e carreira.
É comum que a cultura do cancelamento também provoque traumas psicológicos e emocionais profundos, que levam as pessoas canceladas a excluir sua conta em redes sociais e, em circunstâncias mais graves, até mesmo a cometer suicídio.
Isso porque, na internet, protegidos pelo anonimato, os usuários se sentem mais protegidos e tendem a ser mais agressivos. Assim, as pessoas canceladas são alvos de humilhações, mensagens de ódio, injúrias e difamações.
Pode cair no Enem?
Para o professor de Sociologia e Filosofia do Colégio Poliedro, Guilherme Franco, o tema cultura do cancelamento tem bastante relação com as disciplinas de Sociologia e Filosofia e pode sim aparecer no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Além disso, o assunto ainda pode ser tema da redação do exame, segundo Maria Catarina Bózio, professora de Redação e coordenadora da 3ª série do Ensino Médio, também do Colégio Poliedro. Confira abaixo como o tema pode ser cobrado na prova!
Filosofia e Sociologia
O professor Guilherme aponta que as causas da cultura do cancelamento envolvem tanto a tecnologia quanto a forma que as pessoas se relacionam no ambiente virtual. Sendo assim, a prática do cancelamento pode ser associado às ideias e teorias do sociólogo e filósofo Zygmunt Bauman, que reflete acerca das relações sociais na pós-modernidade.
O primeiro ponto levantado pelo professor é a questão do imediatismo provocado pelas redes. “Há um descontentamento com o âmbito jurídico e uma sensação de que, na internet, se não fizermos o cancelamento, as pessoas que cometem os erros não serão punidas. Existe uma ideia de punição imediata”, explica.
Outra questão é a liquidez das relações, principalmente nas redes sociais. “[Nas redes], há uma facilidade de adicionar e bloquear pessoas que não temos na vida real, onde precisamos de habilidades sociais, de debates e entendimento da diversidade. Nas redes, nos associamos às pessoas parecidas, que fazem parte das mesmas bolhas sociais. Muitos que divergem podem ser atacados”, complementa Guilherme.
Existe ainda a falta de debates nas redes e a forma violenta, antidemocrática e parcial que muitos cancelamentos ocorrem. Aspectos esses que vão contra as ideias de outro filósofo, Jürgen Habermas.
“A filosofia de Habermas fala muito sobre discurso e debate. É importante que a gente tenha a comunicação e a ideia de que, mais importante de convencer alguém, é tentar enxergar outros pontos de vista que evitem que fiquemos encarcerados nas nossas próprias opiniões e valores”, elucida o professor.
No Enem, o professor acredita que possam ser abordadas questões como: “Até que ponto a fragilidade jurídica perante as redes e a falta de ação de setores do Estado mobiliza pessoas a tentar fazer justiça com as próprias mãos?” e “Até que ponto há realmente justiça ou apenas um justiçamento, um linchamento, uma expressão de autoritarismo?”.
Redação
Na redação do Enem, caso o tema cultura do cancelamento seja cobrado, a professora Maria Catarina presume que a prova faça uma reflexão sobre a intolerância e o desrespeito aos direitos humanos.
“Na medida em que coloca em risco a integridade moral e a dignidade da pessoa que é alvo do discurso de ódio, a cultura do cancelamento passa a ser uma manifestação de intolerância”, justifica a professora.
Outra temática possível para a prova é o cancelamento como uma busca informal pela justiça, ”o que tem relação com o desrespeito ao processo legal e a descrença nas instituições que integram a democracia”, ressalta Maria Catarina.
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